Elisabeth Mariano Apresenta


Edição nº 59 - de 15 de Dezembro de 2006 a 14 de Janeiro de 2007

Olá Leitores!

A modernidade eletrônica e as mulheres

Um dos fatores que mais expõe as mulheres atualmente é o uso de parafernália eletrônica usada inescrupulosamente por espionagem industrial por alguns grupos que abusam não só do poder econômico mas também político.

O Segredo de Justiça acaba também muitas vezes sendo violado por alguns vilões que querem se antecipar a divulgação de fatos que ainda não foram investigados o suficiente, deste modo prejudicam as diligências, e, muitas vezes, expõem, de modo indevido, os investigados, que são massacrados moralmente, sem nada ter a ver, além de prejudicarem, sensivelmente, os profissionais do âmbito da polícia, justiça e perícia que possam estar se dedicando de modo sigiloso a um caso. Daí até surgiu a revisão da Lei 9296 (24/7/96).

Importante é que se esclareça sempre que deva prevalecer o “Interesse Público” que seja algo que a população precisa saber massivamente, a fim de não ser  prejudicada ou violada em seus direitos. Não é viável a invasão da esfera privada, principalmente, no que tange a “intimidade das pessoas”. Agora é deplorável, alguns profissionais da imprensa usarem os recursos tecnológicos para provocarem situações criminosas até mesmo, por via de meios eletrônicos, que somente demonstram toda o requinte maquiavélico de perseguição política, principalmente, às mulheres, e que também fica claro o abuso de poder pela concorrência desleal.

Obviamente, que quem assim age está totalmente devassado nas informações que deve respeitar legalmente em sua profissão, e com o uso abusivo e ilegal da eletrônica se verá punido mais rapidamente também. Imagine uma cena bizarra: Alguém com personalidade de troglodita tendo acesso aos mais modernos meios eletrônicos, sem respeitar as leis, não saberá se comportar a uma nova realidade, a qual requer novos procedimentos de atuação social moderna, principalmente, o respeito aos Direitos Humanos, exceto que se comprove ser alguém complicado emocionalmente, aí não deveria ter acesso a alguns cargos, e dispor de certos meios para prejudicar outros.

Este ano 2006, demonstrou bem os absurdos que podem estar ocorrendo na área da comunicação e vale ser repensado os procedimentos legais e principalmente, uma revisão dos currículos acadêmicos.

Com esta sugestão e reflexão agradecemos tudo o que foi feito de modo positivo em nossa vida, a colaboração continuada de pessoas imbuídas de boa vontade e verdadeiramente solidárias, em destaque as que no âmbito jurídico foram nossas aliadas na busca de soluções as violações sofridas. Abraço com votos de um ano 2007 pleno de alegrias e realizações. Elisabeth Mariano.

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Violência contra a Mulher e a TV

No mês de Dezembro findou a Campanha dos 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres 2006, cujos 16 segmentos abordados neste ano foram: meninas, jovens, negras, trabalhadoras rurais, trabalhadoras domésticas, portadoras de deficiência, mulheres na política, mulheres encarceradas, portadoras de vírus HIV, prostitutas, indígenas, idosas, donas de casa, migrantes e lésbicas.

Também, no dia 10 de Dezembro, passou-se a comemorar, por iniciativa da ONU, o Dia Internacional da Criança na Mídia, além, de que nesta data, atualmente, já comemore com muitas atividades sociais o Dia dos Direitos Humanos (promulgado pela ONU).

Diante de tais comemorações, buscamos uma pesquisa para esclarecer sobre os aspectos da mídia na violência contra as crianças e contra as mulheres, por meio dos programas televisivos, destacando um excelente trabalho assinado pela Dra. Marta Suplicy, veiculado na Revista Maria Maria - Ano I, nº 0, p. 28 a 31, editada pela UNIFEM - Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (coordenadora regional da UNIFEM para o Brasil e o Cone Sul: Branca Moreira Alves) 1999, Brasília / DF. Sob o título "Violência contra a Mulher e a TV".

Segundo a autora dra. Marta Suplicy "A violência contra a mulher atinge mais de um quarto da população feminina do planeta. É a mais perversa manifestação das relações de poder e de desigualdade entre os sexos em nossa sociedade, derivada da construção social dos papéis de homens e mulheres. Esses papéis são os chamados papéis sexuais, padrões de comportamento e de conduta, valores que norteiam o que uma sociedade, em um determinado momento histórico, espera de seus homens e mulheres nos espaços públicos e privados. Esses papéis são passados de geração para geração através da educação de meninas e de meninos, na qual são estimulados certos comportamentos de cada sexo"(...)

No que tange sobre a educação infantil, a Dra. Suplicy ainda enfatizou que: (...) "a educação de nossas crianças não é mais responsabilidade exclusiva da família e da escola. Há uma série de outras interfaces sociais com instituições que influencian os processos educativos. Talvez, a que hoje provoque grande controvérsia seja a televisão. Principalmente porque nos grandes centros urbanos, as crianças chegam a passar quatro horas diante de um 'babá eletrônica', numa atitude de 'recepção' do que lhes é apresentado. O processo de desenvolvimento da criança precisa contemplar os aspectos da recepção e da emissão. Recepção passiva é domínio. A criança tem que reagir - claro, conforme seu desenvolvimento - e interagir com quem lhe passa algo. Assim, ao se falar de formação de valores e o pensamento simbólico em relação aos papéis sexuais, não dá para deixar de analisar o papel da TV na formação ou sua influência na composição das identidades".

Referente ao que selecionar programações para as crianças assistirem, onde se propague menos violência, a Dra. Marta Suplicy destacou: "É preciso diferenciar 'programas ruins' e 'programas nocivos'. É claro que em tudo entra a subjetividade. Por isso mesmo, não estamos pensando em 'censores', mas em mobilização da sociedade para exigir que as emissoras de TV não continuem num monólogo: definem o que se deve entregar à sociedade e pronto.

Seriam só elas a não terem uma relação democrática com a sociedade? Como ficam as obrigações sociais (até definidas em nossa Constituição) quando se sabe que as concessões de rádio e TV são dadas pelos setores públicos? Respeitam elas as regras elementares, cumprem seus deveres básicos?"

Referindo-se à patrocínios de programas e relações com os telespectadores, a autora, Dra. Suplicy, questionou: "Porque não são apresentados e patrocinados - programas como os da TV Cultura, tão premiados e que tanto agradam as crianças? Porque não investir em programas que desenvolvem outras capacidades, mais de acordo com as atitudes que queremos despertar em nossas crianças, em nossa juventude? Por que será que há quem teime em investir no 'mundo cão'? Quase todos os grandes jornais já tem seus 'ombudsmen' que recebem as queixas e impressões de seus leitores. Que emissora de TV fez isso? Como fica, no mínimo, o Código de Defesa do Consumidor?

A maioria dos programas infantis nos quais aparecem cenas de atitudes violentas - incluindo desenhos animados - não tem a contrapartida de oferecer alternativas de reação à violência, por meio de negociação, diálogo, contraponto. A reação a um contragosto, a uma ofensa ou a um desacordo é a violência da palavra, do gesto, da imagem. Acho que aqui mora o perigo. Nossas crianças, estão aprendendo a melhor forma de responder a uma frustração, diferença ou contragosto é a reação violenta. E como ficam as crianças que não têm por perto alguém para fazê-las cair na real e ponderar que há outras formas de resolução de conflitos que não seja pela via da violência, ou que lhes diga que o que elas vêem é uma violência?"

No quesito violência contra a mulher, a autora Dra. Suplicy explicou que: "Isto fica muito evidente no caso da violência contra a mulher, que é violência física, sexual, visível, mas, também, é uma forma de violência simbólica. O preconceito e a discriminação, os estereótipos, o apelo à redução da mulher ao corpo ou parte dele, muitas vezes, passam despercebidos e vão sendo assumidos como parte da realidade. A Convenção Interamericana para Prevenir, Sancionar e Erradicar a Violência contra a Mulher define essa violência como: 'qualquer ação ou conduta, baseadas em seu gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto no espaço público como no privado'.

A realidade nos mostra que homens em estado de sobriedade e lucidez mental, com capacidade de discernir e eleger sua vítima, também cometem violência contra a sua parceira."(...)

Referindo-se a uma pesquisa (obviamente em 1999, ocasião da edição desta reportagem, que destacamos alguns trechos) feita pela CPMMarketing, uma pesquisa qualitativa solicitada pelo Grupo TVer, que envolvia "um grupo de mulheres vítimas da violência, dá algumas pistas. A maioria delas (74%) não se acha retratada na mulher apresentada pela TV. Mas, dizem, por outro lado, que não as agrada a realidade crua da violência contra as mulheres que as TVs mostram. Nem o 'Globo Repórter', um programa que focalizou bem esta questão, as agradou. Talvez esteja aqui um ponto para a reflexão: estarão elas fugindo do confronto com a própria realidade, para a qual não acham saída? Terá a televisão cumprido um papel de espelho?

Aqui apontamos uma questão importante: estamos vivendo uma época de transição de modelos de identidade, paradigmas, valores. Por isso, estamos vivendo contradições que se explicitam no dia-a-dia. Em relação à TV, também, se por um lado, 74% das mulheres pesquisadas dizem que a TV não as agrada, não as representa, por outro lado, 68% dizem que a televisão tem coisas boas, serve de companhia, informações, provoca entretenimento. Assim, a televisão não pode ser, em si, endeusada, nem endemoniada. Ela é um instrumento, que pode estar a serviço da educação, da cidadania, da mudança; ou do reforço de estereótipos e preconceitos, à serviço da dominação"(...)

Ao referir-se ao que pode ser considerado violência praticada pelas exibições televisivas Dra. Marta se pronunciou com estes questionamentos: "Seria uma violência fixar a imagem da identidade de sucesso colocada apenas no rebolado e ao corpo perfeito? Seria violência apresentar como modelos de sucesso as 'meninas do tchan' e não valorizar referências de sucesso baseado em outra competência profissional? E como ficam as nossas mulheres frente ao estereótipo de beleza e sedução que as TVs vendem? Isso seria violência: Seria violência a erotização precoce de nossas meninas, estimulada por programas de TVs, sem que elas tenham a mínima noção do que isso representa?

Há, por outro lado, nas novelas, uma tendência a valorizar mulheres fortes, até agressivas ou supermulheres. Mas, ainda é visível o reforço da mulher-mãe, mulher-heroína, mulher-objeto. Em filmes, a violência sexual é comum. E, muitas vezes, fica impune. E há, também, o enfrentamento adulto e maduro, em muitos casos, de temas tabus: aborto, virgindade, homossexualidade." (...)

Relembrou, também, Dra. Marta, os novos estudos que orientam procedimentos, em como se deve lidar com a violência na TV, ao que destacamos: (...) "Por isso, uma nova tendência se faz presente nos estudos relacionados a esta área de interesse. É 'saber lidar com a violência na TV'. É mostrar a uma criança uma cena violenta, comentá-la, questioná-la e procurar, em conjunto com ela, outras soluções menos agressivas. Isto intensifica sua consciência do problema (seja ele qual for: social, psicológico, econômico etc.), aumenta sua auto-estima e provoca o pensar crítico diante do que é passado na TV. Ou, em grupos de auto-ajuda, levar as mulheres a refletir sobre o que vêem, o que sentem e como se organizar para reagir se a TV as agride.

Este pensar crítico relativiza a influência da programação e deixa claro o poder que o espectador tem de escolher o que ele deseja ver, o que acredita que sua família deve assistir."(...)

No tópico sobre de quem é a responsabilidade pela diminuição a violência doméstica e até urbana fica bem claro o conceito da Dra. Marta Suplicy neste trecho: (...) "Por isso, é preciso lembrar que a responsabilidade pela construção de um país saudável é de todos. Muito mais de quem tem o poder e meios de formar opinião, tal como as TVs.

Hoje, já estamos discutindo, no Brasil, o controle social da TV. Setores anteiormente avessos a qualquer tipo de controle sobre a televisão começam a mudar de opinião. Discutimos uma forma legítima de defesa democrática de valores éticos, o controle público e democrático do que é transmitido pela TV, que nada tem a ver com censura. Propõe-se a um acompanhamento rigoroso e persistente feito pela sociedade, apoiado em organismos públicos, com poderes para manter a televisão estritamente dentro do seu papel institucional, que é o de educar, informar e produzir entretenimento de alto nível. Em outras palavras, tratar as pessoas como cidadãs. No caso de tratar as mulheres com respeito à sua dignidade intrínseca é a sua atual condição.

Que tal os movimentos de mulheres terem uma atenção específica para essa maquininha mágica, poderosa, e analisarem-na e procurar os meios de denunciar os abusos que reforçam atitudes de violência contra a mulher e outros, que sirvam de nossos aliados na luta pela mudança?"

(Sobre a autora do texto: Marta Suplicy é psicóloga, foi presidenta do Grupo TVer (1999). Foi Deputada Federal e Prefeita de São Paulo (PT), autora de vários livros. Esteve em Beijing / China, em 1995, na IV Conferência Mundial da Mulher (ONU))