Elisabeth Mariano Apresenta


Edição nº 86 - de 15 de Março de 2009 a 14 de Abril de 2009

Olá Leitores!

É uma questão de Democracia o acesso de “Mais Mulheres no Poder”?

"Dentre as comemorações ao Dia Internacional da Mulher (08 de março) realizada pelo “Governo Federal, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) e o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher promoveram, nos dias 9 e 10 de março, o Seminário “Mais Mulheres no Poder: Uma Questão da democracia.”

Na “ocasião foi lançado o Observatório Brasil da Igualdade de Gênero e feita uma homenagem a diferentes mulheres que ocupam espaços de poder e decisão, se destacando em suas áreas de atuação. Durante o evento a ministra Nilcéa Freire, da SPM, vai assinar a portaria ministerial que institui o Prêmio Mais Mulheres.”

Dentre os debates estava o tema: a sub-representação das mulheres nos espaços de poder e decisão; a democracia, as mulheres e o poder; e a reforma política.”

“O Seminário contou com a presença de Françoise Gaspard, cientista social francesa, autora de trabalhos sobre o tema da paridade e experiência na vida política como prefeita e deputada, e da ministra Dilma Roussef, Casa Civil.” Na abertura do evento estavam presentes, além da Ministra Nilcéa Freire (da SPM), deputadas(os) e senadoras(es); representantes do PNUD e do UNIFEM no Brasil entre outras autoridades, e influentes conferencistas." (Fonte: Divulgação da Imprensa SPM)

Obviamente, que há um grande esforço do governo federal para promover o acesso das mulheres às instâncias do poder, e se torna notório que o aumento dessas nas esferas de decisão muito representará uma nova realidade democracia em nosso país.

Todavia, o que se percebe ainda é uma grande dificuldade do envolvimento de mulheres para participarem de movimentos em que venham a se expor como lideranças, em qualquer oportunidade, pois estamos frente a uma sociedade patriarcal fechada pelo poder masculino.

Este fato é inegável, mediante a exposição e a vulnerabilidade de alguns cargos, em que a mulher fica isolada sem acesso a qualquer apoio, necessário para qualquer ser humano que esteja exercendo pela primeira vez alguma oportunidade com responsabilidades diferentes em sua própria vida.

Alguns homens frustrados em suas carreiras logo encontrarão meios maldizentes e ficarão a espreita para em qualquer oportunidade ridicularizar a neófita, isto sem comentar que, lamentavelmente, há algumas mulheres que somam junto a eles, para boicotar qualquer iniciativa daquela que “se atreve a pensar que pode exercer algum poder.”

Além de outros fatos e casos comprovados onde são provocadas ciladas ao longo e árduo caminho de qualquer mulher que busque as esferas de decisões e acesso ao poder, em qualquer área. Considerar que este comentário é maldoso e pessimista? Não, infelizmente não o é! Haja vista os casos de cotas partidárias, onde as candidatas aos cargos eletivos não têm a mesma oportunidade de verbas para a campanha, de propaganda, de assessorias etc. em comparação a condição vivenciada e ofertada para os homens.

O acesso ao poder e nas tomadas de decisões somente poderá se tornar realidade quando modificar-se o “caldo de cultura rançoso, que verte no seio da sociedade anti-mulheres no poder”, ou seja, não basta preparar-se com ótima formação e dedicar-se a nova oportunidade, será necessário também uma nova cultura de liderança.

Em nosso país, embora a maioria se declare como pessoas cristãs, ainda se perpetua o assédio moral, o assédio processual, a calunia e a difamação, e a impunidade das pessoas que praticam as iniqüidades e “dormem tranquilas porque praticaram a maldade de cada dia” regadas a prática da intolerância.

Ter equilíbrio para conviver com tamanhas maldades e a falta de preparo dos governos para atender mulheres em número reduzido e que sofram tamanhos descalabros, e constrangimentos, talvez seja a maior dificuldade para conquistar o “acesso ao poder e na toma de decisões”. Criar políticas públicas que atendam e apóiem estas mulheres que ascendam a cargos de poder impedindo-se “as violações e as impunidades em torno delas”, talvez seja o maior desafio para que o discurso seja posto na prática, e essas mulheres em suas careiras de liderança, não sejam “abandonadas desumanizadamente” em suas trajetórias.

Parabéns a iniciativa da Secretaria de Políticas para as Mulheres e do Conselho Nacional dos Direitos das Mulheres, que tenham muita sorte e sucesso, este é a nossa expectativa, e de nossa parte procuraremos colaborar na divulgação dos fatos e das noticias desta campanha “Mais Mulheres no Poder: Uma Questão da democracia.”

Nesta edição de março em que o projeto ESPAÇO MULHER completa 22 anos, e que a minha pessoa comemora 47anosde voluntária em causas sociais, dos quais 27 dedicados as questões femininas, por meio de áreas de comunicação segmentada para este fim, tenho muito a agradecer as pessoas bondosas (homens e mulheres) que nas mais variadas áreas da sociedade apoiaram-me de algum modo, contribuindo para que “um ideal se tornasse realidade, e se tornasse missão sócio-política ao longo do tempo, hoje somos referência em nossas pesquisas, e seguidas por muitas outras pessoas, ONGs, empresas, instituições etc.

Agradeço principalmente aquelas pessoas que ajudaram a fazer a travessia dos momentos difíceis e tristes, que só vencemos pelo apoio de amizades leais e o conforto da confiança depositada. Agradeço também aquelas pessoas que nos perdoaram por falhas involuntárias, que com sabedoria nos compreenderam.

Que cada pessoa que fez, e faz parte de nossa vida, receba um singelo abraço com gratidão eterna. Elisabeth Mariano.

Conheça o Currículo de Elisabeth Mariano.

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Ministério das Mulheres reforça direitos no Brasil

Por Mônica Villela Grayley, da Rádio ONU em Nova York.

Representante do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para as Mulheres, Ana Falu, diz que decisão levará a mais participação feminina no processo de decisão.

A agência das Nações Unidas para as Mulheres, Unifem, elogiou a decisão do governo brasileiro de criar o Ministério da Mulher.

A medida foi anunciada pelo governo brasileiro, na semana passada, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Processo de Decisão

A representante do Unifem no Brasil, Ana Falu, disse à Rádio ONU que a iniciativa ajudará a aumentar a participação feminina no processo de decisão do país.

Segundo ela, o compromisso com os direitos da mulher também sairia reforçado deste processo.

"A liderança política brasileira olhará a política a favor dos direitos das mulheres com muito mais respeito. Eu acho que para ter a implementação certa das políticas e isso é o que tem insistido as Nações Unidas e o Unifem é a aplicação de recursos. O Ministério agora terá um orçamento próprio que terá que acompanhar o orçamento dos outros Ministérios do país", informou.

Passo Positivo

Segundo agências de notícias, a reivindicação de transformar a Secretaria Especial em Ministério vem sendo feita pela sociedade civil brasileira.

Para a representante do Unifem no Brasil, a medida é um passo positivo, mas o Brasil ainda tem vários desafios, como por exemplo, a maior participação de mulheres em cargos eletivos do país.

(Fonte: Envolverde / Rádio ONU, http://envolverde.ig.com.br/materia.php?cod=57243&edt=1, acesso em 12.03.09)

Dia Internacional da Mulher - Evento no Sul discute o papel da mulher

Serão dois dias de atividades em Santana do Livramento (RS), com a participação de delegações dos países que integram o Mercosul.

O papel da mulher no Mercosul, na sociedade, na família, no trabalho, na política e nos espaços de poder será o tema principal das atividades a serem realizadas no dia 7 de março, em Santana do Livramento, na divisa entre o Brasil e Uruguai, como parte da comemoração do Dia Internacional da Mulher. A promoção é da UGT (União Geral dos Trabalhadores) por meio da Comissão de Mulheres da Coordenadoria de Centrais Sindicais do Cone Sul (CM- CCSCS).

"É nessa cidade do extremo sul do Rio Grande do Sul onde ocorre o maior índice de casos de violência contra a mulher", explica Eleuza de Cássia Bufelli Macari, coordenadora do projeto e secretária-adjunta da Secretaria de Relações Internacionais da UGT.

No dia 8 de março, haverá um ato público com a participação de delegações dos quatro países que integram o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai). A previsão é reunir pelo menos 10 mil pessoas.

Para Eleuza de Cássia, o evento será uma forma de a CM-CCSCS promover um debate visando garantir às trabalhadoras das nações que formam o Mercosul seus direitos.

Mais informações, com Eleuza de Cássia Macari, coordenadora do projeto, no (16) 9609-4536.

(Fonte: http://www.radioprogresso.com.br/index.php?...12686, acesso em 12.03.09)

UNESCO Celebra o Dia Internacional da Mulher 2009

O Dia Internacional da Mulher (8 de março) será celebrado na Sede da UNESCO, de 9 a 27 de março de 2009, com uma série de eventos organizados pela Divisão de Igualdade de Gêneros do Escritório de Planejamento Estratégico da Organização em colaboração com diversos parceiros.

Todos os anos, em março, a UNESCO celebra a data por meio de um programa de eventos, que envolve mesas-redondas, conferências, exposições e eventos culturais voltados para o empoderamento da mulher e a promoção da igualdade de gêneros.

Para mais informações sobre o Dia Internacional da Mulher 2009:

Uma agenda detalhada de eventos e mais informações sobre como se inscrever eletronicamente ou por telefone estão disponíveis no site: http://www.unesco.org/women (em inglês e francês);

(Fonte: http://www.brasilia.unesco.org/unesco/premios/dia-da-mulher-2009, acesso em 12.03.09)

Ministério da Educação lança Programa Mobilidade Acadêmica Brasil

Portaria do Ministério da Educação instituiu o Programa Mobilidade Acadêmica Brasil (MAB) possibilitando que alunos e professores de uma universidade federal cursem e ministrem disciplinas em outras Instituições Federais de Ensino Superior (IFES).

O programa permite, ainda, que alunos e professores desenvolvam atividades de pesquisa e de extensão, dentro de um curso equivalente no qual terão asseguradas as mesmas condições, direitos e garantias de um estudante matriculado regularmente ou por docente em efetivo exercício na universidade que os receberá.

As IFES participantes deverão controlar o rendimento acadêmico e reconhecer os créditos cursados pelo estudante mobilizado, bem como controlar a frequência dos professores e dos alunos em mobilidade. Mais informações: http://portal.mec.gov.br.

Palestras comemorativas ao Dia Internacional da Mulher

03 de março - 16h - A trajetória da mulher pelos seus direitos, a questão da violência e a Lei Maria da Penha. Palestrante: Dra Thereza Näveke, Presidente da Comissão Permanente de Mulheres Advogadas - OAB e Conselheira do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher - CEDIM-RJ.

09 de março - 16h - A Mediação de Conflitos na Guarda Compartilhada - com a Dra. Samantha Pelajo, especialista em Direito da Família, Mestranda em Mediação Familiar no Institut Kurt Boscho (Suíça); membro do projeto piloto Mediação de Conflitos no Tribunal de Justiça do RJ.

17 de março -14h - O Segredo da Deusa - O resgate do Feminino na Saúde, Uma reflexão sobre a Saúde como uma sabedoria milenar feminina - com a Dra. Marina Castro, CD e professora de Acupuntura.

Às 17h - A prevenção na Saúde da Mulher - com a médica ginecologista e obstetra Dra. Aparecida Monteiro, Mestre em Saúde Pública.

Local: auditório do CRO, à rua Araújo Porto Alegre 70, 5º andar.

(Fonte: CROn-line 155)

Debate no SINPRO-SP discutirá o papel do professor hoje

O SINPRO-SP dá início à agenda de eventos de 2009 com um debate para discutir o papel do professor nos dias atuais. Será a primeira edição de "Diálogos Pertinentes", que acontece no dia 19/3, às 14 horas, no auditório do Sindicato, e terá como debatedores o filósofo Luiz Felipe Pondé e a professora Silvia Abreu.

O evento é dirigido aos professores. As inscrições são gratuitas e devem ser feitas aqui no site, com o número de matrícula no SINPRO-SP e senha (caso ainda não tenha uma, entre com a data de nascimento no formato dd/mm/aaaa). Há 70 vagas disponíveis. Os professores da rede pública interessados em participar devem enviar e-mail para imprensa@sinprosp.org.br, com nome completo e telefone, solicitando a inscrição.

Precatórios em São Paulo serão pagos com dinheiro da venda da Nossa Caixa para o Banco do Brasil

Carlos Giannazi parabenizou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pela importante vitória para todos os aposentados, pensionistas e desapropriados de São Paulo. De acordo com o deputado, a OAB Federal entrou com uma ação contra o governo estadual para o pagamento dos precatórios. "O poder público não paga os precatórios de São Paulo há quase 10 anos. É uma dívida de R$ 16 bilhões", afirmou. Segundo Giannazi, a Justiça determinou que o dinheiro da venda da Nossa Caixa para o Banco do Brasil fosse utilizado para pagar esses precatórios. "Não concordo com essa venda, mas pelo menos sabemos que o dinheiro está sendo bem usado", completou.

(Fonte: Giannazi na Tribuna - Pronunciamento publicado no Diário Oficial - 12 de Março de 2009-  notícia assessoria de imprensa - Boletim 15.03.09)

Mutirão Cultural da UBE

Ciclos de Estudos Gratuitos – Parque Dr. Fernando Costa

Rua Francisco Matarazzo, 455, Barra Funda

Auditório Paulinho Nogueira

Inscrição no dia ou cel: (11) 7394-8261 ou fonoaudióloga.suelicarlos@bol.com.br.

Público: aos interessados

1º) A Arte do Falar – Visão Fonoaudiológica

Fonoaudióloga Sueli Carlos

Dias: 07-11-21-28 de fevereiro e 07-14 de março de 2009

 Sábados das 09:00 às 12:00 horas

- discutir os parâmetros que governam a voz e fala

2º) Psicologia na Oratória

Psicóloga Francisca Garcia Gianiselli

Dias: 01-08-15-22-19 de março e 05-12 de abril de 2009-01-

Domingos: 9:00 às 12:00 horas

- conscientização de si e do contexto vivido interna e externamente

3º) O Escritor no Parque

Quiosque número 03 do parque

Dia 28 de março de 2009

Das 14:00 às 17:00 horas

-presença de escritores e suas obras

PUC - Mutirão Cultural da UBE - Centro de Estudos de História da América Latina - CEHAL

4º) Técnicas de Oratória - Dr. João Meireles Câmara

sala 62 Prédio Novo- Térreo

Rua Monte Alegre 984 Perdizes – São Paulo

Dias: 07-14-28 de fevereiro, 07-14-21-28 de março e 04 de abril de 2009

Sábados:das 9:00 horas até 12:00 horas

Tendal da Lapa

Rua Constança nº 62 LAPA tel:3862-1837

Técnicas de Oratória - Dr. Geraldo Condino

Dias; 07-14-21-18-de março e 04-11-18-25 de abril de 2009

Sábados: das 13:30 horas às 1:30 horas

Palestras

1º) Ecologia – Impacto no Meio Ambiente

Palestrante: Alauízio Aparecido Ribeiro – Escritor

Dia 07 de março de 2009- Auditório Paulinho Nogueira

Parque Dr. Fernando Costa

Av. Francisco Matarazzo, 455 - às 09:00 horas

2º) Numerologia

Palestrante: Marlene Esteques –Psicanalista

Dia 29 de março de 2009 - Auditório Paulinho Nogueira

Às 09:00 horas

Conferência

1º) Depois da Crise

Cientista Político: Fábio Metzger

Dia 21 de março de 2009 às 09:00 horas

PUC - Sala 62

Rua Monte Alegre 984 – Prédio novo – térreo

Irmã Dorothy: mártir, profeta, mística e santa proclamada pelo povo

IHU - Unisinos *

Adital - Por Moisés Sbardelotto

Relembrando alguns episódios de sua infância com a Irmã e sua irmã Dorothy, David Stang, em entrevista exclusiva por e-mail à página IHU On-Line, testemunha toda a admiração pela vida e pela entrega de Dorothy, derramando seu sangue "que corre nas terras brasileiras que ela tanto amou, levantando-se em nome dos que não têm direito e em nome da Floresta Amazônica".

Ex-missionário católico no Quênia e na Tanzânia, e hoje residente no Colorado, EUA, David Stang critica ainda a justiça e alguns setores da imprensa brasileira, por seu preconceito em retratar sua irmã como uma revolucionária e traficante de armas, uma "agente norte-americana" - sem levar em consideração a sua cidadania brasileira e o seu trabalho de mais de 30 anos no Brasil - e por insultar a sua fé católica e "a bela e simples cruz católica que ela sempre trazia ao redor de seu pescoço". E afirma que a família Stang ainda luta para que o caso seja federalizado.

Mas muito além dos limites da justiça terrena, David Stang relata a sua esperança naquilo que sua irmã, com o seu martírio, plantou na sociedade e na Igreja brasileiras. "Nós dois tínhamos o desejo de ajudar os pobres, os desejos do Vaticano II de que abríssemos os nossos corações às pessoas e descobríssemos com elas as suas necessidades", afirma. "Ambos sentíamos o Espírito Santo dentro de nós e o Reino de Deus em nossos corações. Com a grandeza de Deus dentro de nós, não tínhamos por que ter medo".

E é daí que surge a sua convicção em afirmar que sua Irmã Dorothy o "encorajou a estar vivo" e a dizer, sem hesitar, que Dorothy é uma mártir, uma profeta, uma mística e uma santa, tão proclamada pelo povo.

Confira a entrevista.

IHU On-Line - Quatro anos depois do assassinato da Irmã Dorothy, como é possível avaliar o legado que ela deixou com relação à defesa da ecologia e dos direitos humanos?

"Dorothy me encorajou a ver a terra em que vivemos como algo vivo e não apenas uma coisa morta. O martírio de Dorothy me encorajou a estar vivo".

David Stang - Os dois Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS) são legados de Dorothy. Esses PDSs estão vivos e saudáveis na área de Anapu. Seus agricultores estão plantando, colhendo e vendendo sua produção contra as ameaças dos fazendeiros e dos madeireiros ilegais locais. O Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] está trabalhando melhor com esses PDSs e começando a proteger esses programas federais.

Quando Dorothy foi assassinada, havia 35 grupos de fazendeiros que queriam trabalhar a terra de uma maneira sustentável, isto é, 80% de floresta para 20% de fazendas. Agora, há 70 grupos de agricultores que se uniram. Esses 70 grupos são independentes dos PDSs. Obviamente, esses agricultores estão se levantando contra muitos fazendeiros, madeireiros e pistoleiros que roubam ilegalmente a floresta.

Eu acredito que o martírio dessa senhora de 73 anos deu coragem a milhares de agricultores na área de Anapu, para cultivar, proteger e conservar a Amazônia, contra a influência poderosa dos madeireiros e fazendeiros que querem queimar, destruir e transformar a região em uma terra de fazendas, sendo que mais e mais cientistas afirmam que essa transformação não tem mais volta.

Em novembro de 2008, Regivaldo [Pereira] [fazendeiro acusado de pagar pelo crime] foi a um encontro em Anapu convocado pelo Incra e declarou que o Lote 55 era dele. Ele não apenas foi desmentido quanto a essa petição, mas foi também preso depois por apropriar-se ilegalmente dessa terra, especialmente desde que fora libertado da prisão, afirmando que não tinha interesse no Lote 55.

Tivemos quatro júris públicos nos quais conseguimos que Clodoaldo [Batista], Rayfran [Sales] e Tato [Amair Feijoli da Cunha] fossem sentenciados a vários anos de prisão. Também conseguimos que Bida [Vitalmiro Bastos de Moura] e Regivaldo ficassem presos por um tempo. Esses julgamentos públicos tiveram enorme publicidade, mas as pessoas foram educadas à falta de justiça para com os pobres no Estado do Pará. Apelamos por um novo julgamento de Bida e estamos pedindo um julgamento para Regivaldo. Esses julgamentos realmente dão esperança para os pobres e certamente estão provocando uma maior consciência da necessidade de um sistema judiciário honesto. Depois do novo julgamento de Bida, ele foi libertado com base em mentiras. Essa impunidade foi tão descarada que até o Presidente do Brasil declarou publicamente que o julgamento de Bida foi uma paródia. A governadora do Estado do Pará, Ana Julia Carepa, também declarou que o julgamento foi uma paródia.

"Dorothy é uma mártir, uma profeta, uma mística, por causa de sua relação próxima com Deus e com a sua grande terra. E uma santa, tão proclamada pelo povo".

Há um documentário sobre Dorothy, "Mataram Irmã Dorothy", que foi exibido no Rio de Janeiro, em São Paulo, Brasília e em Belém, no Fórum Social Mundial de 2009, antes da Assembléia Geral [da Comissão Pastoral da Terra] em Brasília, nos dias 12 e 17 de fevereiro em Anapu. Esse filme está aumentando as esperanças e a consciência pela justiça em milhões de brasileiros.

Há também dois livros, "Mártir da Amazônia" (Paulus Editora, 2008), de Roseanne Murphy, e "A dádiva maior" (Editora Globo, 2008), de Binka Le Breton, escritos sobre Dorothy, ambos publicados em português.

Há novas escolas, parques melhorados e centros comunitários no Brasil que receberam o nome de Dorothy. A enorme quantidade de jornais, rádios e TVs brasileiras que cobriram o trabalho de Dorothy deu mais consciência às pessoas para se colocarem de pé por si mesmas.

Milhões de acres da Floresta Amazônica foram declarados terra pública e de preservação desde o assassinato de Dorothy. Um cientista me contou que isso nunca teria acontecido sem o clamor público em torno à sua morte.

IHU On-Line - Poderia nos contar um pouco sobre a sua relação com sua irmã Dorothy? Quais são as suas lembranças mais valiosas dela e de sua relação fraterna com Dorothy?

David Stang - Dorothy era uma das minhas irmãs mais velhas que cuidou do meu irmão gêmeo e de mim. Ela brincava, jogava futebol, basquete e patinava no gelo com o meu irmão gêmeo e comigo.

Ela também tinha um grande amor pela terra. Então, o nosso vínculo começou quando nós éramos pequenos, seis e sete anos de idade, quando cuidávamos juntos do jardim orgânico do nosso pai ou íamos a uma fazenda próxima de casa para colher frutas e ganhar um pouco de dinheiro para ajudar o nosso pai a educar todos nós, nove irmãos, durante a Depressão. Dorothy era alguém com quem nos sentíamos seguros e com quem também gostávamos de estar. Era uma pessoa feliz, amorosa. Todos comíamos juntos no entardecer, lavávamos a louça juntos e rezávamos juntos antes de ir para a cama.

"Nós da família Stang fomos insultados quando o juiz permitiu que os advogados de defesa insultassem a fé católica de Dorothy, a sua cidadania brasileira, o seu trabalho de mais de 30 anos no Brasil".

Em dezembro de 2004, ela me telefonou e disse: "Por favor, venha para Belém para participar da entrega do Prêmio dos Direitos Humanos da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil] que vou receber". Quando cheguei a Belém no dia 04 de dezembro, ela estava atrás de toda a multidão [no aeroporto], pulando para cima e para baixo com o seu sorriso enorme, dando-me as boas-vindas ao Brasil. Pude passar uma semana com ela, viajando de ônibus pela cidade de Belém e falando sobre nossas vidas.

Enquanto estive com ela, senadores, advogados, irmãs e amigos se encontraram com ela e avisaram-na que havia ameaças de morte contra ela. Essa viagem de dezembro, em retrospecto, foi uma grande celebração de despedida.

No dia 11 de fevereiro, ela me telefonou novamente, contando-me que gostaria de ir para Esperança [um dos PDSs na região de Anapu, onde Dorothy foi assassinada] para ajudar as 12 famílias de agricultores que tiveram suas casas e suas colheitas queimadas intencionalmente, pois não tinham para onde ir nem o que comer. Ela disse que estava levando comida, lençóis e até mesmo martelos e pregos para reconstruir, para dar-lhes apoio e esperança. Porém, ela me disse naquele momento: "Eu estou um pouco nervosa". Eu disse para ela: "Então não vá". E ela disse: "Eu não posso fugir do povo que eu amo". Ela me mandou um beijo pelo telefone e me deu tchau. Esse telefonema me traz muito boas lembranças.

É incrivelmente ingênuo e maldoso como os advogados de defesa puderam retratar a minha irmã como uma revolucionária, uma agente dos norte-americanos, e como o júri acreditou nisso. Se os pistoleiros tinham medo de Dorothy, por que eles ficaram e esperaram por ela no dia seguinte?

IHU On-Line - O senhor também tem uma grande história pessoal de missão e trabalho pelos direitos humanos. Pode nos contar um pouco a respeito disso? Como o seu trabalho e a luta de Dorothy em defesa do povo e do Reino de Deus estão conectados?

David Stang - Eu fui às missões na África pela primeira vez em 1964. Ela foi ao Brasil em 1967. Nós dois tínhamos o desejo de ajudar os pobres e aqueles que tinham muito pouco, os desejos do Vaticano II de que abríssemos os nossos corações às pessoas e descobríssemos com elas as suas necessidades, tanto físicas quanto espirituais. Nós dois vínhamos de uma história de ter muito pouco e de acreditar fortemente nos direitos humanos, nos nossos próprios direitos de partilhar os bens de Deus que ele livremente deu a todo o ser humano, de acreditar nas palavras de Jesus, que dizem que devemos amar os nossos próximos como a nós mesmos. "Bem-aventurados os pobres porque deles é o Reino dos Céus". Essas palavras nos tocaram muito profundamente.

"O que eu posso dizer quando vejo Bida livre, mesmo quando menos de um ano antes ele havia sido sentenciado a 30 anos? O que eu posso dizer quando Regivaldo diz ser dono do Lote 55, onde minha irmã foi assassinada?"

Eu iniciei duas cooperativas entre os Wakuria do Quênia e da Tanzânia nos anos 60, com mais de cinco mil membros. Dorothy e eu geralmente conversávamos sobre como esse trabalho junto com as pessoas protegia os pobres da ganância e do poder dos ricos. Esse trabalho em conjunto ajuda as pessoas a entrar na grande economia do Brasil.

Durante 30 anos, eu também trabalhei no Colorado, nos Estados Unidos, como administrador de uma casa de saúde, cuidando de idosos, portadores do mal de Alzheimer, doentes mentais e pessoas com problemas de comportamento. Eu fui o Administrador do Ano duas vezes no Estado do Colorado.

Nós entendíamos que, por causa desse libertar as pessoas, seríamos odiados por muitos ricos e pelos poderosos, porque eles querem escravos e pessoas sem educação. Nós também sabemos que muitos ricos e os poderosos chamam os pobres de preguiçosos e de "vidas boas". Será que eles não se dão conta que sua ganância e sua opressão ajudam a causar o lado escuro da pobreza?

A primeira escola que Dorothy construiu junto com as pessoas foi demolida por alguns fazendeiros ricos, que forçaram a todos a cortar a mesma madeira com a qual eles construíram a escola e a colocá-la na carroceria de seus caminhões. A estação de rádio que Dorothy iniciou para que as pessoas pudessem ouvir as notícias foi destruída em uma noite. O PDS como o conhecemos foi e é odiado por muitos fazendeiros e madeireiros ainda hoje.

Essa pessoa Dorothy que teve tamanha energia, que deu a eles uma grande esperança durante 30 anos, foi assassinada intencionalmente. Tínhamos grande esperança de que a humanidade cresceria em beleza e consciência. Isso não pode acontecer se nos satisfizermos com a nossa vida pessoal de oração. Não ver a pobreza, o sofrimento e a desesperança dos pobres seria contra a nossa fé cristã, espiritual. Então, Dorothy teve um grande desejo de colocar seus braços ao redor do mal que existia e que criava tanta dor e desesperança, para educá-lo e transformá-lo. Obviamente, Dorothy queria dar a sua vida por esses ideais. Sobre esses princípios, Dorothy e eu tínhamos profundo respeito e amor recíprocos.

Dorothy e eu sentíamos a presença de Deus nas nossas atividades, e essa fé nos encorajou a fazer o nosso trabalho da melhor maneira. O fato de ela ter sido convidada para o Brasil em 2004 foi um grande presente para mim. Quando ela me ligou um dia antes de ser assassinada, sabendo que ela estava em uma jornada perigosa, foi o seu beijo de despedida para mim.

"Matar uma irmã católica de 73 anos em um país tão católico é um grande choque para muitos católicos em todo o mundo. Tudo afirma claramente que há impunidade e escravidão no Pará".

Ambos respeitávamos e compreendíamos o trabalho que estávamos fazendo para ajudar a humanidade e que esse amor e compaixão pelos outros é o sentido mais verdadeiro da Igreja Católica. Ambos sentíamos o Espírito Santo dentro de nós e o Reino de Deus em nossos corações. Com a grandeza de Deus dentro de nós, não tínhamos por que ter medo.

IHU On-Line - Como o senhor vê o reconhecimento e a repercussão do trabalho e da morte de Ir. Dorothy nos EUA e em outros países fora do Brasil? Recentemente, ela recebeu postumamente o Prêmio de Direitos Humanos das Nações Unidas, em razão de seus trabalhos na Região Amazônica.

David Stang - Dorothy recebeu diversos títulos Honoris Causa de diversas universidades nos EUA desde a sua morte. Ela recebeu um Congressional Award do Senado e do Congresso dos EUA. O governador do Colorado, Bill Ritter, declarou, por Proclamação Honorária, o dia 25 de setembro de 2008 como o Dia Dorothy Stang. O filme "Mataram Irmã Dorothy" ganhou muitos prêmios nos EUA. Como mencionei antes, há dois livros em inglês sobre a vida de Dorothy. As editoras Orbis Books e Random House me disseram que esses livros têm sido verdadeiros best-sellers.

Então, obviamente, muitas pessoas querem saber sobre ela nos EUA. Há também muitas publicações com artigos sobre a vida de Dorothy em inglês. Há também reportagens nas TVs e nas estações de rádio acompanhando os julgamentos em Belém. Houve quatro festivais de filmes no último mês nos EUA, em que a exibição do filme sobre Dorothy teve lotação de público. A HBO irá exibir pela primeira vez o filme sobre Dorothy no próximo mês em Dayton, Ohio, a cidade natal de Dorothy, e depois será exibido em todo o país.

Milhares de pessoas estão pedindo informações sobre Dorothy. Sua popularidade está crescendo imensamente aqui no país. Dorothy é vista como uma pessoa muito espiritualizada, uma mulher muito corajosa, mesmo com sua idade de 73 anos, que amava a Amazônia, os agricultores e os pobres, e a vida espiritual que ela escolheu lhe deu essa grande força. Eu também vejo minha irmã como uma grande brasileira, pela lei brasileira e pelo seu sangue que corre nas terras brasileiras que ela tanto amou, levantando-se em nome dos que não têm direito e em nome da Floresta Amazônica para que tivéssmos um futuro. Como ela sempre dizia, "Eu não posso fugir dos pobres ou dessa grande floresta".

"Essa falação na imprensa brasileira e nos julgamentos chamando Dorothy de 'norte-americana' mostra o preconceito em aceitar uma estrangeira como brasileira".

Dorothy recebeu um Prêmio de Direitos Humanos nas Nações Unidas na Assembléia Geral. Eu recebi o prêmio com a Irmã Joan Burke, das Irmãs de Notre Dame de Namur [congregação de Dorothy], em frente a toda a imprensa mundial. Minha única frustração é que os delegados da ONU do Brasil, que estavam presentes na cerimônia de premiação, nunca vieram me dar as mãos. Então, não sei o que ele pensam sobre essa grande brasileira que entregou sua vida pelo Brasil. Esse prêmio é entregue apenas a cada cinco anos. Eu acredito verdadeiramente que os oficiais brasileiros deveriam ficar orgulhosos por um dos seus ter recebido esse prêmio. Essa falação contínua na imprensa brasileira e nos julgamentos chamando-a de "norte-americana" mostra o preconceito de alguns em aceitar uma estrangeira, independentemente de quanto tempo ela morou ou trabalhou no Brasil, como brasileira.

Eu acho que muitas e muitas pessoas em todo o mundo veem que há corrupção e escravidão dos brasileiros no Estado do Pará. Mesmo se o presidente Lula diz que o último julgamento foi uma paródia, as pessoas pensam que essas são palavras sem nenhuma ação. Matar uma velha irmã católica de 73 anos, uma mulher desarmada, em um país tão católico, sem nenhuma justiça, é um grande choque para muitos católicos de todo o mundo. Os livros, os jornais, as emissoras de TV, as estações de rádio, o filme sobre Dorothy, tudo afirma claramente que há impunidade e escravidão no Pará. O presidente Bush foi uma vergonha nos EUA e para todo o mundo, e o assassinato dessa irmã católica brasileira de 73 anos é uma vergonha mundial para o Brasil.

IHU On-Line - Existem pesquisas e estudos ou institutos acadêmicos que analisam a vida e o compromisso da Irmã Dorothy com a natureza e com a questão dos direitos humanos nos EUA ou fora do Brasil?

David Stang - As Irmãs de Notre Dame de Namur são uma congregação mundial. Elas têm escolas e universidades em todo o mundo. Todas as suas escolas e universidades assumiram a causa de Dorothy. Existem programas de estudo sobre Dorothy, sobre ecologia, sobre a vida de Dorothy em todas as escolas. A senhora [Nancy] Pelosi, presidente da Câmara de Representantes dos EUA, foi a uma universidade de Notre Dame em Belmonte, na Califórnia, onde as Irmãs de Notre Dame dão aulas. Há muitas pessoas importantes nos EUA que foram educadas pelas Irmãs de Notre Dame de Namur. Essa tragédia do assassinato de Dorothy está se tornando muito conhecida no país e fora dele.

"Eu vejo minha irmã como uma grande brasileira, pela lei brasileira e pelo seu sangue que corre nas terras brasileiras que ela tanto amou, levantando-se em nome dos que não têm direito e em nome da Floresta Amazônica".

Estudantes de mestrado de uma universidade norte-americana também entregaram uma dissertação de mestrado sobre a vida de Dorothy em 2006. A Universidade de Dayton tem uma disciplina sobre Dorothy. A Universidade Notre Dame, em Belmonte, tem um programa inteiro sobre a vida de Dorothy. Muitos estudantes do Ensino Fundamental em todo o país estudam Dorothy em programas que são chamados de "A Rainforest Unit for Primary Grades". Os programas são distribuídos pelo Sister Dorothy Stang Educational Aids, um projeto das Irmãs de Notre Dame de Namur (dotedaids@sndden.org). As irmãs católicas em todo o país abraçaram a vida dessa grande mulher brasileira.

IHU On-Line - Qual a sua opinião sobre a postura do Judiciário e do Executivo brasileiros e como o senhor avalia o processo de julgamento dos assassinos da Irmã Dorothy?

David Stang - Eu estive no Brasil dez vezes desde o seu assassinato. Quatro anos se passaram, e Bida e Regivaldo, os fazendeiros que são acusados de pagar pelo seu assassinato, ainda estão livres. Um dos prisioneiros foi espancado violentamente para alertá-lo para não testemunhar durante um dos julgamentos. Outro prisioneiro afirmou claramente que os ricos e os poderosos não vão para a cadeia. Tato, Clodoaldo e Rayfran modificaram seus testemunhos muitas vezes ao longo desses julgamentos. O filme "Mataram Irmã Dorothy" mostra claramente a falta de justiça no Estado do Pará.

Os advogados de defesa mentiram e tentaram retratar a minha irmã como uma revolucionária, que vendia armas. Dorothy era muito conhecida pelos oficiais do governo, pela Polícia Federal, pela polícia estatal e assim por diante. Nunca antes ela havia sido acusada, durante seus 39 anos no Brasil, flagrada ou provou-se o seu envolvimento com armas, exceto pelos falsos rumores dos fazendeiros e dos madeireiros.

Felício Pontes, um procurador federal do Estado do Pará, era um amigo próximo de Dorothy, assim como muitos outros oficiais do governo. Ele chamou essas acusações sobre a Irmã Dorothy, nos dois julgamentos de Bida, de falsas e sem mérito. A única vez em que ela foi acusada falsamente, disse o procurador federal Felício Pontes, a acusação foi montada pela polícia local corrupta e pelos fazendeiros.

O presidente Lula enviou os seus assessores ao funeral e houve muitos senadores e brasileiros famosos no enterro da minha irmã. Será que o presidente do Brasil, que comparou Dorothy a Chico Mendes, teria sido tão incentivador se tivesse qualquer dúvida de que ela era uma traficante de armas ou uma agente da América do Norte?

"Ambos sentíamos o Espírito Santo dentro de nós e o Reino de Deus em nossos corações. Com a grandeza de Deus dentro de nós, não tínhamos por que ter medo"

A imprensa sempre me perguntou se eu achava que haveria justiça, e eu sempre disse: "Dorothy amou o Brasil. Ela era uma brasileira e tinha uma grande esperança no Brasil". Eu ainda espero que haja justiça. Eu também amor o Brasil e vejo grandes promessas e muitas pessoas lutando pela causa de Dorothy. Eu encontrei muitos advogados brasileiros que estão aterrorizados e envergonhados pela falta de justiça no Pará.

O que se pode dizer quando a Comissão Pastoral da Terra, da Igreja Católica, afirma que há mais de 800 agricultores que foram assassinados no Pará e nenhum deles está preso por esses crimes? O que eu posso dizer quando vejo Bida livre, mesmo quando menos de um ano antes ele havia sido sentenciado a 30 anos? O que eu posso dizer quando Regivaldo participa de um encontro com o Incra em Anapu, em novembro do ano passado, e diz ser dono do Lote 55, onde minha irmã foi assassinada? Ele foi libertado da prisão com base em sua declaração de não ter interesse no Lote 55. O que eu posso dizer quando, depois de quatro anos, Regivaldo ainda não foi julgado? O que eu posso dizer quando, no julgamento do ano passado, o júri libertou Bida, e então, no tribunal, eu e muitos outros fomos cercados por tropas como se fôssemos perigosos? Por que Bida e sua família não foram cercados por policiais no antigo julgamento em que ele foi indiciado a 30 anos?

Nós, a família Stang, estamos novamente pedindo a federalização desse caso, pois fomos profundamente insultados no último julgamento, quando o juiz leu os resultados e libertou Bida, quando a defesa disse que os pistoleiros estavam com medo e mataram Dorothy em legítima defesa e que não havia provas de que os fazendeiros pagaram pelo seu assassinato. Nós da família Stang fomos insultados quando o juiz permitiu que os advogados de defesa insultassem a sua fé católica, a bela e simples cruz católica que ela sempre trazia ao redor de seu pescoço, a sua cidadania brasileira, o seu trabalho de mais de 30 anos com o governo brasileiro e a Igreja Católica.

IHU On-Line - Dadas as hesitações judiciais no caso Dorothy, qual é a perspectiva que se apresenta para os outros defensores dos direitos humanos do Brasil, como os três bispos e demais lideranças que receberam ameaças de morte?

"Não ver a pobreza, o sofrimento e a desesperança dos pobres seria contra a nossa fé cristã".

David Stang - É uma barbárie ameaçar qualquer pessoa de morte, e ainda mais bispos católicos que amam os pobres. Muitos católicos, porém, me disseram que estão perplexos por um país católico como o Brasil ter seus próprios bispos ameaçados. Esse terrorismo vai contra qualquer crença espiritual que tenhamos e talvez nos indique que o governo também é fraco para proteger o seu próprio povo.

Minha irmã Dorothy teve que sobreviver durante anos com ameaças de morte. Por quê? Bida e Regivaldo tem histórias públicas e bem conhecidas de posse ilegal de terras. Mesmo no primeiro julgamento de Bida, ele foi acusado pelo juiz de ser um criminoso. Será que o governo não sabe quem são essas pessoas que fazem essas ameaças de morte? Se há impunidade, o que claramente existe no Estado do Pará, por quê existe? Por que são permitidos a destruição das terras públicas e o assassinato de brasileiros?

IHU On-Line - O senhor ainda acredita no sonho da Irmã Dorothy no que se refere à Amazônia e ao seu povo?

David Stang - Os PDSs ainda estão indo muito bem, e muitos outros agricultores na área de Anapu estão se levantando contra os pistoleiros, os madeireiros ilegais e aqueles que se apossam das terras. Tivemos quatro julgamentos, e eu acredito que ainda haverá mais.

Os brasileiros amaram o filme "Mataram Irmã Dorothy". Eles sentem que o filme tem relação com eles e com o medo ao qual se referem como "impunidade", a falta de justiça no Estado do Pará. Assim como Dorothy dizia: "David, todos temos esperança na Amazônia". Muitas pessoas do governo, advogados, brasileiros me disseram: "David, não há justiça no Estado do Pará", e mesmo assim essas pessoas continuam a ser grandes cidadãos. Todos temos uma grande esperança. Quando os assassinos, aqueles que destroem o futuro do Brasil, serão detidos e julgados?

IHU On-Line - Como o senhor vive e experimenta a presença da Irmã Dorothy hoje? O que você faz e se sente impulsionado a fazer em sua memória?

"Nós dois tínhamos o desejo de ajudar os pobres e aqueles que tinham muito pouco, os desejos do Vaticano II de que abríssemos os nossos corações às pessoas e descobríssemos com elas as suas necessidades".

David Stang - Dorothy foi uma pessoa muito espiritualizada. Essa espiritualidade tocou muitos e muitos brasileiros, incluindo eu. Dorothy nos apresentou uma forma de vida humana, pessoal, compassiva. Ela demonstrou como os seus assassinos e muitas outras pessoas a viam como um objeto, assim como a terra, a ser subjugado e destruído por dinheiro.

Como é possível matar uma pessoa espiritualizada e não sentir remorso ou medo de que Deus não viu o que foi feito?

Dorothy acreditava que o divino está em todo o lugar, que Deus nos deu esta grande terra para ser compartilhada por todos nós. Dorothy é uma mártir, uma profeta, tão proclamada por Dom Erwin [Kräutler], uma mística, por causa de sua relação próxima com Deus e com a sua grande terra. E uma santa, tão proclamada pelo povo.

Eu converso com a minha irmã em minhas meditações, alguém a quem amei. Eu tenho 71 anos e sei que o meu tempo é limitado, e eu também quero estar diante de Deus no momento certo. Por que eu não quereria me encontrar com uma amiga de Deus como ela? Por que eu quereria entrar em contato com a mesquinharia, com a crueldade, com o mal, exceto para transformá-los em algo bonito? Ela me ajudou a olhar o meu estilo de vida e ver como eu sou amável com os outros, como eu vivo de maneira simples, para que outros possam viver e denunciar os violentos, os assassinos e aqueles que nos destroem e destroem a terra que nos dá vida.

Ela me encorajou a ver os demais como pessoas, não como objetos, e a ver a terra em que vivemos como algo vivo e não apenas uma coisa morta. O martírio de Dorothy me encorajou a estar vivo e a ser uma pessoa melhor.

* Instituto Humanitas Unisinos

(Fonte: http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=37513, acesso em 12.03.09)